7.06.2010

À minha vida noturna

Da janela da sala, no escuro das duas e quinze da manhã, eu vejo aproximadamente trinta e dois prédios residenciais. Não tenho condições de calcular quantas janelas existem nesse campo... Mas, seguramente, afirmo que menos de dez luzes estão acesas (incluindo luzes de televisores, computadores e abajures).
A pergunta que se reminhoca enlouquecida  na minha cabeça é: o que sentem aquelas pessoas a essa hora?


   
Há algum tempo venho observando as sensações que a madrugada me proporciona. Descobri que tais sensações estão bem além da minha concentração (que é bem vaga) tornando-se afiadíssima, do meu cérebro funcionando sem a luta contra o barulho irritante e persistente da avenida e do meu corpo relaxado, porém ativo. Essas sensações têm me presenteado com uma certa "psicodelia" mental, uma chance de estar em paz, sozinha, de certa forma feliz e sem precisar abrir minha boca pra produzir um único ruído sequer.
Numa espécie de voto noturno de silêncio minhas experiências tornam-se mais intensas; posso concentrar mais energia em cada uma delas, em cada minuto. Posso definir perfeitamente a intensidade com que cada vibração de som arrepia minha pele, a textura de cada cor, a forma de cada um dos diversos aromas que eu faço questão de experimentar, ou as ondas de calor em que se transforma tudo que minha língua toca.
São pequenas experiências que fazem diferença no meu imperfeito, inacabado e solitário universo paralelo, um lugar onde eu não preciso de pessoas, nem de vida. Apenas da minha mente, direta ou indiretamente ligada ao meu corpo retorcido e dolorido a essa altura do tempo. Tempo cuja percepção se altera completamente, se alonga, se contrai, pára...  Deixa de existir.
E pouco me importam o foco e o resultado. Depois de tudo, ainda estarei aqui. No mesmo lugar.
No mesmo universo, na mesma madrugada.

2 comentários:

Vitor Molina disse...

A madrugada nos traz uma segurança insegura. Nela, nós somos mais nós. Somos mais observadores que observados.

Saudade do seus textos, das conversas e de você.

Beijo

Catiana Nogueira disse...

A madrugada nos ensina muita coisa!
Valeu pelo cometário